28.12.08

S e nt i do

A. M.anhã

Eu costumo tomar suco de laranja pela manhã e gosto de passar manhãs em cômodos claros. A manhã não pode preencher demais. Tem que ser leve como uma rede. Mas deixa a rede ali, porque a manhã deve ter energia para ir até a areia da praia. A praia urbana, esta é abusivamente atraente, mesmo como o diverso caleidoscópio à noite, quando e onde o excesso então não cansa.

Foi esse caráter "árcade" que a civilização tomou para si. Agora ela leva até onde quer (e estritamente aonde Quer). É possível porque o peso não está no concreto, nem mesmo em sua cor. De tão leve, a arquitetura parece nunca sair do papel, e até mesmo chegam às nuvens os arranha-céus. É isso, a apart-civilização é um quadro tradicional, moderno, numa exposição “de elite”, que poucos visitam. E quem vai à galeria é freqüentador assíduo. Ou você (gostando ou não) vive de suas redes, ou você provavelmente a odeia, seja por ignorá-la, por sentir-se inadequado, seja por impotência. E também não é nada disso necessariamente...

Estava ali sentado ao perceber que aprendia a ver. A palavra, meio também falho, se transformou diversas vezes, adequou e foi adequada em ordens e maneiras diversas. A palavra é tudo aquilo o querem, queriam, quiseram fazer fluir. Mas existem outras coisas depois que os olhos aprendem por si sós - aprendem a andar como um dia aprendemos a falar. Existe tudo aquilo que eu não escolho querer fluir e que aprendi a acabar sendo.

Não sei se foi porque eu quis (porque nunca sei até onde as coisas são por mim), mas agora consigo sentir a manhã. Pensar vai deixando de ser peso, e também vai deixando de ser pensamento. E mesmo, sou muito mais do que vejo, sinto-me uma parte do inalcançável.