31.1.13

O Poeta da Academia

... Então descobri que eu era a pessoa mais intensa que eu não conhecia. Olhando a minha volta, impressionei-me com a prevalência de pessoas que, admirando as epifanias mais essenciais - aquelas que fazem do mais simples a verdade - não as punham em prática, definitivamente.
E a única explicação que desenvolvi foi que, como vive quase todo o mundo preso à superfície das conjunturas - mesmo os que parecem mais livres -, eterniza-se o hábito de significar preferencialmente o que é apenas instantaneamente visível.
E depois, o esvaziamento das potencialidades humanas - e não o contrário - se complementa pela competição desenfreada, porque isto - e a especialização excessiva - é o que existe hoje, e só faz encruentar o ser humano. Este é o mundo.
O poeta e o palhaço são muito afins. Mas, na contemporaneidade, a sua dialética não é mais a do sofrimento imanente que gera vida sensível, alegre e reflexiva. Quase não é mais uma dialética, é só o puro sofrimento imanente, sem o aspecto socializante. Todos os chamam poetas - e palhaços - mas tenho certeza de que seu senso de pertencimento se reduziu ao de meros entretenedores, pois que - e pior - a interlocução foi corrompida, neste mundo, à habilidade de subverter automaticamente a poesia e a graça a uma sanação torta de sintomas pontuais. Tais sensibilidades são as que habitualmente reduzem a poesia a tergiversações estéticas tecnicamente habilidosas, quando esquecem que, assim como o ser vivo é o próprio amor, a poesia é, antes de tudo, o próprio poeta. São as mesmas que pensariam que falo da importância do poeta como um indivíduo, quando, na verdade, não é nem do poeta que estou falando.